martes, 3 de junio de 2008

Quando se vê a pontinha da partida...


E de repente me dou conta que vivi um ano a parte. Uma Ano que não pode se enquadrar no espaço-tempo que a gente vive normalmente. Esse ano de que vos falo tem vontade própria e anda como quer. Às vezes, passa lento, lento, quando queremos que ele seja veloz. E na maioria das vezes, ele anda rápido, que nem nos dá tempo de respirar, deglutir, digerir um pouco sobre toda essa loucura.

Conheci um bando de gente... Pessoas de lugares que até nem eu sei de certo como é, qual a sua capital, nem que temperatura faz por lá no inverno. Muitas dessas pessoas vêm e vão tão depressa como o tempo. E sinceramente, não ia ter graça se todos ficassem para sempre marcados. Mas encontrei realmente pessoas surpreendentes. A maioria - quer dizer, a depender da lógica, fica sendo minoria mesmo - delas são dessas que eu poderia incluir na lista dos marcantes. São um tipo de pessoa que eu fico tentando imaginá-los quando as coisas voltarem às antigas (pigarreio... antigas, não!), como será não tê-las ao menos por uma distância menor das que vamos enfrentar.

Acho a vida engraçada... Existe essa coisa de você conhecer milhão de pessoas de repente, e depois elas não vão passar de simples lembranças. Assim, daquelas que se tira com um espanador sobre a foto empoeirada. Ou daquelas que você vai olhar a foto, e parar no mínimo alguns minutos para se lembrar o nome dela. Pra essas coisas, sempre vêm as coisas de destino, escrito nas estrelas... Mas ultimamente tenho me reservado o direito de ficar meio puto com esse tipo de coisa!

O que também acho engraçado - sempre tendo a achar as coisas muito engraçadas, por mais dramáticas que elas sejam. Ou talvez por serem dramáticas... Que mania! - é que venho pensando no tanto que degluti. Pois, comi tanta vida, tanta responsabilidade, tanto aprendizado que é como se nada tivesse sido digerido ainda. A vontade era de escrever sobre cada pequena coisa, transmitir cada pensamento dessa cabeça diretamente para o papel. E sinto que nada disso vai acontecer porque sinto o pior, sinto o cheirinho do fim. Um cheiro de uma comida gostosa, bem temperada, que a gente não devia comer, mas come de gula. Talvez a pontinha de terra que vem surgindo do horizonte, anunciando a nova terra... Lutei, relutei, briguei com meus sonos pensando no dia em pensar, em escrever, em gritar que chegou. No final das contas, sei que tudo não passa de um eterno medo meu pelo inevitável fim das coisas.

Por esse otimismo que eu tanto carrego todos os dias, sei que tudo que eu vi, todas as pessoas, as realidades que conheci, o que passei em cada canto dessa casa - do que posso chamar de MINHA ou de NOSSA casa - desse país chamado Euskadi, vão comigo no estômago, mal deglutidos mas vão para que eu os sinta eternamente gelando-o, me fazendo lembrar das melhores coisas. Vou levá-los bem perto, como uma caixinha de sonhos, pra que possa recorrer aos momentos e pessoas, colocá-los em meus pensamentos, e voltar essa realidade inexplicável por minutos.

Umas das primeiras palavras que aprendi a dizer em euskera foi o tchau, o adeus, o até logo. O "agur" velho de cada encontro que sai tão naturalmente. O "agur" do dia de sair dessa realidade vai doer como meu estômago cheio de lembranças. Mas, ao contrário do buxo, mistura de dor e prazer, de tristeza e lembrança, o meu adeus a essa terra vai cortar e marcar o começo de algo que não é bem o que queria viver no momento. Acho que enterro nessa cidade a minha boa vida de faculdade.

Aqui ainda vai o natural,
Aguuur

Santurtzi (exatamente, meu quarto numa noite de insônia), 29 de maio de 2008

2 comentarios:

▪G.S.N▪ dijo...

Fiquei engasgada com seu texto.
Perfeito.
Eu imagino a dor de deixar tudo aí.
Mas a gente tá te esperando pra pra te ajudar na continuação da sua vida aqui e depois voltar pra reconstruir tudo ai.

beeijooo

Nina Neves dijo...

beibe, vc sabe que o fim ainda não chegou e que vc tem muito a escrever, né?
volta.