miércoles, 30 de enero de 2008

A continuação do meu diário de bordo


Sim, eu sei que sou terrível nas atualizações. Mas chegaram coisas pra se fazer nessa faculdade. Tenho um trabalho de fotografia enorme pra entregar, 2 provas. Nada tão absurdo quanto a velha vida faconiana, mas tem me tomado tempo.

Por isso, o diário de bordo chega em breve na versão RESUMÃO PARA CONCURSO, porque só assim vou conseguir escrever pouco.

Adiantando aqui que as coisas vão indo bem. Passamos da crise dos 5 meses, da revolta de querer voltar e aproveitar o verão com todos os amigos, passou também a depressão e a vontade de não fazer mais nada. Retomamos a busca incessante por um novo ap, tentando ainda morar com algum estrangeiro pra treinar o castelhano. Perdendo um trem aqui, indo parar em Orduña (a 2h horas de trem) de lá, vamo aguentando Santurtzi e o Renfe. E vamos daqui também planejando novas viagens: Galícia, Navarra e Aragón, Marrocos e Leste Europeu. Todas a escolher...

Enquanto vocês curtem o calor e o maior carnaval de rua do planeta, me despesso aqui nos meus mísero 6º graus, preparando a fantasia para o carnaval de rua de Bilbao: pierrot, colombinas, alecrins, ou seja, o baile de carnaval do Baiano de Tênis invade a GranVía até a Plaza Moyua de Bilbao.

Bueno, chicos.
Aguuuuur

martes, 8 de enero de 2008

Un grand voyage per facere en el fin de año

PARTE I

Enfim, chegamos ao fim do ano. Enquanto vocês vivem o mais caloroso dos verões baiano, estou por aqui, sofrendo com o frio, com ventos cortantes e gélidos, com roupas à moda "bolinha", que me deixa quilos e quilos mais gordo. Na tentativa de amenizar todas as saudades - das camisetas, da poucas roupas, das idas e vindas a praias, ao clima bom de Natal e Ano Novo - eu e minha trupe, a mesma que partiu de Bilbao rumo as terras lusitanas (nao tive tempo de postar, mas eu, Ugo, Nina, Tici e Breno estivemos em Portugal), saimos para as viagens de fim de ano. E eis que abaixo segue o grande diário de bordo, com coisas e coisas que nos aconteceram, na tentativa de relatar esses grandes dias no velho mundo. Aproveitem, se deliciem, imaginem, vivam comigo o que vivimos durante esses 20 dias.

Dia 17 - ROMA, CITTÁ APERTA
Partimos de Bilbao numa manhã fria. Nosso primeiro destino era Santander, cidade que fica na regiao da Cantrábria à não menos que 1h30 do País Basco. De mala, cuia e tudo que era possível para 20 dias longe de casa nas mãos, pegamos o vôo da Ryanair, companhia low coast da Europa, rumo a Roma. Pisar em Roma, primeira das nossas paradas, era sinal de frio na barriga. Quando a gente vive num mundo em que viajar para Europa é sonho, mesmo quando tudo parece tão perto do que você imagina, a sensação é de que continua sendo um grande sonho.

Pois bem, sonho ou não, aterrisamos em terras italianas. E fomos de lá direto para a casa de Marzia, irmã de Francesca, amiga italiana que anda perdida, como nós, em intercâmbio em Bilbao. Mas o clima na recepção não foi dos melhores, mesmo que a alegria de nos receber tenha sido a mesma de sempre. Marzia e Francesca recebia uma prima que entra numa história típica de qualquer "causo" de família, o que nós impedia de estar na casa dela. Sem conhecer nada de Roma, o resultado foi fazer uma pizza em casa e beber um pouco de vinho, até chegar o novo dia. Conhecemos nesse dia dois amigos de Marzia que marcaram já as simpatias pelos italianos, e a certeza de que os italianos do Sul são os brasileiros outra vez. Ana, de Nápoles, mal falava uma palavra em espanhol, mas nós falávamos assim mesmo, e ela nos respondia em italiano. Ugo, ainda desprovido dos conhecimentos da lingua espanhola, falava em inglês... As vezes, Nina até arriscava o francês com ela. No fim da contas, todo mundo entendia todo mundo e a torre de Babel não desabou.

Conhecemos Nicola, da região da Apulia, que é completamente apaixonado pela Bahia. Ele é músico, e foi ao carnaval de Salvador nesse ano. O cara curtiu dois dias de folia, e, talvez pela emoção de nunca ter visto coisa igual, caiu numa febre de 40º e teve que encurtar sua passagem pela Bahia. Mas levou com ele uma paixão, a percussão e o swingue da música baiana. A paixao virou tanta que ele agora estuda português através das músicas e pretende passar um tempo por lá, daquelas coisas de querer passar 6 meses, mas terminar os dias curtindo a Bahia. E assim ele contagiou Marzia, e no fim das contas, todos falavam baiano. Nenhum deles diz que falamos portugues, dizem que nossa forma de falar - cantada, porque eles imitam melhor que o Casseta e Planeta - e as palavras, girías que criamos formam um dialeto, como os que cada um deles tem em suas cidades. E daí começaram as classes intesivas de "baianês" e também de cultura baiana.

Dia 18 - O DIA EM QUE NOS LIVRAMOS DA PRIMA
E chega o novo dia. Dia de decidirmos o que fazer do nosso roteiro de viagem. Com laptops a postos, saimos em busca de lugares, albergues, meios de transporte... tudo para que pudessemos estar em Milao no dia 29 e pegar o avião com destino a felicidade, ah, a felicidade: PARIS! E não é que todos os deuses e divindades começaram participar da nossa viagem? Enquanto estavamos todos na luta para saber quando estariamos em Roma e, principalmente, em que lugar, a tal da prima diz que vai embora. Festas, pulos, gritos, agradecimentos à primeira participação divina na história, e também decisão das nossas vidas.

Nosso rumo agora era Veneza, a romantica cidade das gondolas e do Carnaval. Viajariamos as 22h da noite, em um trem regional que liga as grandes cidades italianas. Nosso roteiro, agora, já estava traçado: seriam 2 noites em Veneza, 3 noites em Florencia, e eu e Tici resolvemos passar, nesse meio caminho, por Bologna eem ce Pisa. Ainda sem conhecer Roma, no máximo as ruas que cortam os alredores da casa de Marzia, ficamos em casa com ela e Ana, a contar histórias, a conversar sobre a cultura italiana, a ouvir "tarantelas" (como essa aqui: Gabriella Ferri - La Società dei Magnaccioni). Marzia, que é atriz e faz trabalhos de clown e pernas-de-pau, fez uma pequena demonstração dos "estancos" (como sao conhecidas as pernas) e de como fazia nas boates e outras festas quando ficava metros mais alta (principalmente quando, em festas de musica latina, os coroas sempre pediam para dançar com ela).

As 22h, partimos a Veneza em um trem que só podia me lembrar o Expresso Hogwarts. Era pequenas cabines, com 6 cadeiras e que a gente podia dominar uma e nos apertar entre elas na tentativa de dormir. Mas confesso que dormir no trem não foi das melhores experiências... Com meus 1,87m de altura, e muitos de largura, distribuidos em uma cadeira um pouco mais larga e maior que a convencional me rendeu uma ressaca física terrível. O desejo por uma velha e boa cama, mesmo um colchão mofado, cheio de xanha, era o que mais queriamos.

Dia 19 - BUON GIORNO, VENEZIA!
Descemos em Mestre, cidade da região de Veneto cedinho, quando o sol ainda tirava seu longo sono. Esperamos o sol despertar - demorado por sinal - dentro de uma Mc Donalds e de um café, aproveitando para matar a fome com o famoso capuccino italiano (que não é o mesmo que vocês tomam por aí; o original é um simples e incrivelmente delicioso café com leite) e uns croissants - ou cornetos como eles chamam.

De cara, já se percebe a diferença entre os italianos e os espanhóis. Imaginem em um povo grosso, que nao lhe trata bem e que a sua língua exige que eles falem como se tivessem realmente brigando! Esses sao os italianos. Mas são, com aqueles que conhecem, extremamente enérgicos, alegres e contentes, como nós brasileiros. Dá pra se sentir de certa forma correspondido com tanta energia que exala da gente, da nossa forma de falar e gesticular (falar italiano é sinal de ver mãos e mais mãos movendo-se em um compasso desordenado).

Com o buxo cheio, era hora de procurar os albergues. Se preparar para a facada pra falar a verdade, porque demos a grande sorte de desembarcar na cidade em que hospedagem já é cara por natureza em pleno dia que começava a alta estação de inverno. E lá vamos nós, perdendo-nos pelas ruas da cidadezinha, atrás de no mínimo uma cama rasoável e um banheiro. Vai e vem pra lá, entramos em um pequeno hotel com aquele sentimento de " vamos só pra desencargar a consciencia". E não é que o atendente desse hotel era um brasileiro do Paraná? Identificados logo como "irmãos", ele ofereceu um roteiro turístico para os nossos dois próximos dias na cidade, com direito a dica de restaurante tipicamente italiano com preços acessíveis. O problema era que no hotel dele, não rolava ficar.

E lá vamos nós em busca de um teto. Encontramos um hostal - como aqui se chamam as pousadas vagabundinhas e as de beira de estrada - que era tipicamente um hostal: escadas estreitas, um lugar úmido, que parecia nós engolir para um frio pior do que o 0 grau que fazia na hora. A atendente de um inglês de esquina foi bem adjetivada por Ugo de biscate - aquela que vive de bicos! por favor, hein?. A idéia de ficar no hotel da biscate não agradou, mas deixamos uma pré-reserva, pois se acaso não nos sobrasse alternativa.

Pois surgiu em plena rua qualquer de Mestre uma pousada com cara de vazia. Preço acessível, quartos maravilhosos, dono super disposto a receber 5 espanhóis - sim, porque falamos espanhol e ele acreditou que eramos daqui! Quando decidimos que iamos ficar uma noite por aí e aproveitar o preço barato no hotel da biscate para economizar, seu Giuseppe, o dono da pousadinha impressionante, resolveu abaixar o preço. No fim das contas, acabou sabendo que eramos brasileiros pelos documentos, e nao perdeu em nada seu senso de humor e sua receptividade.

A figura de seu Giuseppe era de um típico italiano, com boina na cabeça e cachecol xadrez pendurado no pescoço, que podia ser facilmente confundido com um simples figurante das novelas italianas da Globo. Tinha uma cara de mafioso, daqueles que sempre usavam o "jeitinho italiano" - porque eles realmente têm isso - para viver a vida do seu jeito. De um sotaque carregadíssimo, sempre tentava ser o máximo simpático, e engraçado, no fim das contas, quando tentava falar um espanhol e um inglês. No final, acabou iniciando nossas aulas de italiano, sempre com uma nova expressão, com uma palavra diferente.

Com casa, comida e malas postas, só nos restava uma coisa: desbravar Veneza. Saimos de mestre em um trem intermunicipal. A curiosidade era tamanha para entender como um trem chegaria a Veneza, a famosa cidade inundada, em plena estação de transbordo da cidade, perto das paradas de ônibus. Foi aí que deu para entender a geografia do lugar, e perceber que a região é uma espécie de restinga que separa os canais e o rio que enchem a cidade do Mar Adriático.

Tentamos aproveitar as poucas horas de luz que nos restavam, mesmo chegando à cidade as 11h da manhã, porque no inverno da Italia a noite dar o ar da sua graça as 16h30 da tarde. Resolvemos fazer o itinerário sugerido pelo nosso compatriota, o de caminhar pelas ruas de Veneza até, finalmente, chegar a Piazza San Marco. Só que Veneza é uma cidade tão espetacular que não adianta caminhar por ela e seguir um mapa. O bom mesmo é se perder pelas ruas, admirar as pontes que ligam ps estremos do rio, perceber a dinamica da cidade. Ver que os carros das familias sao barcos e que nas portas de sua casa existem garagens no mar. Nessas idas e vindas por becos e ruelas que deu para tomar pela primeira vez o melhor sorvete para inverno, aquele que não é gelado. É um sorvete mais cremoso do que o normal, o que impede que ele vire gelo. Combinou muito com o tempo frio que fazia.

Por esse charme e características tão suas, Veneza nunca fica vazia. E estava extremamente entupida, em razão das festas de fim de ano. Ouvir o português e ver um monte de brasileiros em grupos e excursões passava a ser hobby, principalmente porque era mais um motivo para olhar para a cara de Tici e vê-la fazendo sua bela cara de fobia, com direito a grandes "abridas" de nariz.

De tanto se perder, chegamos a tal da Piazza di San Marco bem na hora que o sol resolvia dar adeus. Fomos realmente abençoados com um por do sol lindo sobre as aguas feias e sujas da cidade. Deu para enlouquecer de tanto tirar foto. Deu também para conhecer a praça famosa pela dança de Claudia Ohanna em Vamp (essa aqui), ser atacados por pombos, e admirar as gondolas em um movimento que é impossível nos deixar mareados.

Felizes, porém cansados, voltamos para Mestre, na tentativa de dormir e seguir o roteiro no outro dia.

Dia 20 - O DIA QUE BURANO ENTROU EM NOSSAS VIDAS
Acordados bem cedo, partimos de Mestre para Veneza - dessa vez de onibus - para conhecer duas ilhotas que ficam nos alredores da cidade. E o meio de transporte para esse itinerário eram os vaporetos, uma espécie de ônibus-barco. Engraçado é ver que as pessoas usam mesmo como meio de transporte, que nao é um truque do governo só para turista ver. Todo canto da cidade tem um ponto de onibus em pequenos cais.

Nossa primeira ilhota era Murano, famosa pela fabricaçao de vidro e de artigos derivados. Seguindo os conselhos de Flavinha e Dona Valdeth, tentamos acompanhar a fabricação de vidros, mas os fabricantes já haviam entrado em clima de fim de ano e fecharam as portas para visitação. Nos restava entao conhecer a cidade, que era extremamente feia.

Depois do momento "nada", excluindo a descoberta da pizza italiana, a original, a melhor de todas, partimos para nossa segunda parada, a ilhota de Burano. Ela é conhecida pela fabricação de rendas em toalhas, roupas, etc. Já sabendo desse detalhe, a expectativa para conhecer Burano eram as mínimas. Mas sabe aquele gosto bom da surpresa? Foi esse o sabor que ficou depois de realmente conhecê-la. É o tipo de cidade que surpreende pela sua simplicidade, pela sua calma, e pelas suas casinhas, todas coloridas. A sensação era a de estar passeando por um mini-Pelourinho transferido de continente, e sem o frisson turistico.

Burano era tão encantadora que fui capaz de me perder dos outros em uma cidade menor que o menor dos bairros de Salvador. E se tínhamos sido abençoados com um grande por do sol em Veneza, em Burano, o por do sol foi uma obra perfeita sem autoria. O que ajudou a torna-la como uma das melhores paradas em território italiano, quiça em território europeu. Foi nessa hora que eu realmente entendi o sublime das geniais aulas de Estética na faculdade.

Sublimados e bestificados, sem a menor vontade, voltamos para decidir o rumo do outro dia. Ugo, Nina e Breno partiriam para Florencia, enquanto eu e Tici pararíamos em Bologna para conhecer a região da Toscana. Essas já são cenas do próximo capítulo - que nao tardaram como as outras notícias.